Project texts and introductions by :
Stephanie Pommez
. Danilo Santos de Miranda . Milton Hatoum

Mães de Umbigo: parteiras da Amazônia
[ english]

À primeira vista, o tempo, o ritmo na Amazônia brasileira impressiona. As vezes lento - 24 horas parecem eternas - as vezes veloz - o surgimento e o decesso da vida à frente dos olhos.

Quem conhece a Amazônia e a percorre, invariavelmente por seus rios, sabe que por lá seus habitantes seguem um ritmo próprio, único e ainda imposto pela força maior da vida, representada pela floresta.

Em meio à realidade e ao encanto da mata, das lendas e da sabedoria vivem mulheres que podem ser ditas madrinhas da vida - as parteiras da Amazônia.  A essas mulheres, que se guiam pela experiência e pelos conhecimentos ancestrais, que elas próprias descrevem como um "dom de Deus", é a que se dedica este trabalho.

Mães de Umbigo é um registro fotográfico e audiovisual íntimo, delicado e intenso de como a vida humana se faz chegar na Amazônia brasileira.

Os registros, muitas vezes flagrantes da vida ou da ausência dela, me foram permitidos por essas mulheres a quem devo gratidão e ante tudo um grande ensinamento - as parteiras da Amazônia são mães da vida de um povo, de uma floresta e carregam essa virtude em históriasque se espalham pelos rios e pelos povos dessa imensa, inóspita e encantadora região.




As parteiras deixam suas casas, famílias e parentes para acompanhar as futuras mães por horas ou dias. A qualquer momento. Não importa. Carregam a experiência nas mãos (literalmente), a tranquilidade na voz e transmitem a segurança e confiança necessária às mães, por meio de seus conhecimentos, de suas histórias.

A parteira é mais do que a pessoa presente e realizadora do parto. Ela é mãe, filha, contadora de história, benzedeira, conselheira, "puxadeira"... enfim, ela é a corporificação de todas as mulheres
ribeirinhas.

Por fim, este trabalho faz parte de uma busca pessoal acerca do pertencimento - que no caso da cultura ribeirinha, o local, a terra, os conhecimentos estão contidos em cada pessoa que lá está.

A essas parteiras, as quais chamei de Mães de Umbigo, e que me permitiram conhecer a dignidade da chegada da vida humana à vida da floresta, dedico esta exposição.

Stephanie Pommez

à Dona Dorca, em memória, a quem
devo especial gratidão, por ter me ensinado
a encontrar a beleza, a enxergar a dignidade e
reverenciar o amor à vida na maternidade.